Dedicado aos meus tios Adriano e Júlia Santos.
Este simpático casal valdantino conseguiu criar e educar de uma forma exemplar sete filhos. Se agora é dificil manter e criar um ou dois filhos, imaginem criar sete há 15 ou 20 anos atrás. Apesar das dificuldades e da ginástica financeira, sempre souberam receber bem quem os visitava e continua a visitar. Felizmente tive a sorte de passar uma boa parte da minha infância na companhia desta singular família. A casa era muito animada e havia sempre alguém que se metia em sarilhos e depois lá tinha a minha tia que arranjar as coisas de maneira a que o meu tio Adriano não se aborrecesse. Como em todas as casas de Valdanta , havia sempre muitos animais: porcos, galinhas, patos, gatos e até uma cabrita preta e uma vaquinha leiteira. A cabrita era muito marota e normalmente fazia umas investidas contra quem passasse no curral. No verão ia com os meus primos mais novos, o Telmo e a Célia, com a vaquinha para o monte, normalmente um lameiro lá prós lados da lama. Os trabalhos de campo sempre fizeram parte do quotidiano desta familia . De todos os trabalhos, o que gerava mais confusão e juntava mais gente era a vindima. Começava-se logo pela manhã e durava até ao final da tarde. As mulheres cortavam as uvas e os homens acartavam-nas para o lagar. Feita a vindima comia-se a merenda preparada pela minha tia e depois os homens faziam a pisada. As pisadas eram uma animação onde todos contavam anedotas e aventuras passadas ao sabor de uma boa geropiga .
Outra das coisas que nunca me vou esquecer daquela casa é o "alambique", onde se produzia a aguardente. Mantê-lo em funcionamento era um trabalho muito duro, normalmente realizado pelos homens da casa, pois requeria muita força de braço. Tinha-se que estar com atenção para não se deixar apagar a fornalha, retirar o bagaço quando este estivesse desidratado e colocar bagaço novo. O bagaço não era mais do que o que restava das uvas depois de feita a pisada e retirado o "vinho" do lagar. Este bagaço velho era depois utilizado para fazer estrume, pois naquele tempo não se desperdiçava nada. Bons tempos aqueles!